quinta-feira, 28 de julho de 2011

Caixote final.

Este blog encerra hoje.
Apesar de ainda não ter os caixotes arrumados (nunca ficarão, acho eu. E ainda bem) já não faz sentido escrever mais cá.
Os motivos que me levaram a escrever aqui já não existem. Quer dizer, sou agora outra pessoa e desconfio que este blog se tornou mais lamechas do que aquilo que eu queria.
Se calhar vai nascer outro. Ou então não (como diz um amigo que eu tenho).
Ando a fazer filtragem do que é mesmo importante e daquilo que devo deitar fora. Da bagagem que não quero levar. E apesar de gostar deste blog, ele não me cabe na mala.
Portanto, fica por aqui.
Daqui para a frente, só carrego coisas pesadas, se forem boas.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

April 4- In the name of love

Parabéns para ti, minha leitora mais fiel ;)

quarta-feira, 30 de março de 2011

Lisboa vista do meu telemóvel.




Obrigada Esmeralda por partilhares a tua super-varanda.

quinta-feira, 24 de março de 2011

Pérola do dia

Ouvido numa sala de espera:

"Acho inaceitável que se recusem a dar subsídios a pessoas que têm... vá lá, cem mil euros no banco e dêem a esses que andam para aí sem fazer nada."

terça-feira, 22 de março de 2011

Plantar uma árvore

Partilhar um poema.
(Escolhido no caixote dos escritores preciosos)


Um adeus português


Nos teus olhos altamente perigosos
vigora ainda o mais rigoroso amor
a luz de ombros puros e a sombra
de uma angústia já purificada

Não tu não podias ficar presa comigo
à roda em que apodreço
apodrecemos
a esta pata ensanguentada que vacila
quase medita
e avança mugindo pelo túnel
de uma velha dor

Não podias ficar nesta cadeira
onde passo o dia burocrático
o dia-a-dia da miséria
que sobe aos olhos vem às mãos
aos sorrisos
ao amor mal soletrado
à estupidez ao desespero sem boca
ao medo perfilado
à alegria sonâmbula à vírgula maníaca
do modo funcionário de viver

Não podias ficar nesta cama comigo
em trânsito mortal até ao dia sórdido
canino
policial
até ao dia que não vem da promessa
puríssima da madrugada
mas da miséria de uma noite gerada
por um dia igual

Não podias ficar presa comigo
à pequena dor que cada um de nós
traz docemente pela mão
a esta pequena dor à portuguesa
tão mansa quase vegetal

Não tu não mereces esta cidade não mereces
esta roda de náusea em que giramos
até à idiotia
esta pequena morte
e o seu minucioso e porco ritual
esta nossa razão absurda de ser

Não tu és da cidade aventureira
da cidade onde o amor encontra as suas ruas
e o cemitério ardente
da sua morte
tu és da cidade onde vives por um fio
de puro acaso
onde morres ou vives não de asfixia
mas às mãos de uma aventura de um comércio puro
sem a moeda falsa do bem e do mal

*

Nesta curva tão terna e lancinante
que vai ser que já é o teu desaparecimento
digo-te adeus
e como um adolescente
tropeço de ternura
por ti.


Alexandre O'Neill

domingo, 13 de março de 2011

12 de Março de 2011








Foi muito pacífico descer a Avenida, apesar dos apertos. Mas os apertos eram apenas calor humano em expansão. Nada de assustador.
Alguém disse que estávamos ali a iniciar um movimento pioneiro. Que somos os primeiros da Europa a mostrar a insatisfação desta maneira: com humor, pacificamente e com razão. Pode ser.

Gostei de estar ali. Gostei de saber que a minha cidade, conhecida por ser conservadora, se manifestou também. 700 pessoas no Rossio em Viseu, podem ser mais significativas do que 200 000 na Avenida em Lisboa. Podem ser.

Quinhentos anos depois das Descobertas , ser QUINHENTISTA já não significa o mesmo. Ser Quinhentista é não ter dinheiro suficiente para suprir as necessidades básicas. Já não significa "dar novos mundos ao mundo".
No entanto, os Quinhentistas de agora, se quiserem, poderão dar novas ideias ao mundo. Pode ser!

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Caixote de saudades

Na casa dos meus pais, sempre se ouviu. Quando mudei para Lisboa, fiz uma selecção das minhas músicas preferidas dele (e que difícil que foi!)e gravei numa cassete que ainda ali tenho. Acompanhou-me de casa em casa. A cassete e o cantor. É um caixote que nunca vou guardar no sotão, nem vou perder. Sempre que mudar, vai comigo.
Não me é permitido deixar para trás.
E, se eu quiser escolher uma música para dizer que é a melhor... não me é permitido. É uma incapacidade do meu sistema, um defeito que eu não quero corrigir.

Fez sempre todo o sentido. Tentou inverter o sentido do carreiro, mas a luta é dura. No entanto,fez multidões, das quais faço absolutamente parte, acreditar que faz falta ir para a rua gritar que o mundo anda sem ter à frente um capataz.

Ele não morreu. Nem se calou. Há-de cantar para sempre. Ele é um amigo maior que o pensamento.

Diria agora: " A revolução é para já"

O Zeca Afonso partiu há 24 anos.