terça-feira, 14 de abril de 2009

Saida da caixa.

Estou em casa.

Com empenho de ir para a rua sem sair do sofá. Estou cá.

Bates à porta. Eu não estou. Tocas a campainha. Eu não vou.

Deves ser tu.

Fico aqui quietinha com o som do meu mutismo. Fico cá.

Conto os passos do sofá à porta. Tão longe. Talvez vá.

E se és mesmo tu? Já lá vou.

Só fica em casa à espera, quem não vive lá.

sábado, 4 de abril de 2009

Caixote do coração

Quando eu era muito pequena, a minha mãe era a moderadora entre as minhas questões existenciais, o resto do mundo e os seus arredores. Eu perguntava e ela explicava o universo todo.
Lembro-me bem de ficar assustada com o barulho das ambulâncias. Fazia-me uma aflição danada. De mão na mão dada pela minha mãe, seguiamos pela rua, até que chegava aquele tinoni aterrador. Aflita. Perguntava-lhe então quem ia na ambulância. Ela, com os seus calmantes olhos verdes, olhava-me e explicava: “É um bebé que vai nascer. Está com pressa de sair cá para fora.” Satisfeita a minha curiosidade, lá seguiamos o nosso caminho. Eu contente. Ela pacificada.
Passaram os anos e eu continuo a ficar aflita com aquele som agressivo e triste. A verdade é que penso sempre em bebés. E fico mais calma. Desejo uma hora curtinha à futura mãe.
Há explicações que fazem sentido. E que ficam. Mesmo que só para mim. Mesmo que só para nós.

Parabéns.