quarta-feira, 12 de maio de 2010

Caixinha de música com bailarina a rodopiar.

Falar de uma pessoa que se foi embora pode ser doloroso. Talvez até me caiam algumas lágrimas enquanto escrevo este texto. São lágrimas de saudade misturadas com sorrisos das coisas boas que ela me ensinou.
Vou falar da minha avó Ermelinda. Linda. Não é um caixote. È uma caixinha de música com bailarina a rodopiar.
A minha avó Ermelinda já se foi embora há alguns anos. Cedo demais. Sempre imaginei que ela ficaria connosco até ser muito velhinha, com a manta nos joelhos debaixo do telheiro da casa dos meus pais. Não quis a vida (ou a morte) que assim fosse. Quando ela morreu fiquei muito revoltada. Senti um peso de injustiça ( e se eu lido mal com a injustiça) tremendo. Demorei muito tempo a recuperar. Acho até que ainda não recuperei bem. Mas habituamo-nos às ausências.
Havia um professor lá em Torredeita que dizia que a minha avó era a moça mais bonita de toda a freguesia. E deve ser verdade. Ela tinha um olhar, um cabelo, uns lábios, enfim, um rosto lindo. E apesar de não ser serena, a mim passava-me tranquilidade.
Como fui a única neta durante muitos anos, lembro-me de ir para a cozinha com ela beber chá preto (hoje tirariam a minha guarda aos meus pais por menos) e comer bolachas torradas ensopadas. Era o meu prazer dos domingos à noite. Também me fazia uma série de pitéus que hoje, por mais que tente reproduzir, não consigo chegar lá. O pudim Mandarim feito por ela sabia diferente e a aletria era maravilhosa, com uns quadradinhos de canela meticulosamente e milimetricamente desenhados. E o Pão-de-Ló. O da minha mãe é quase, quase igual (é verdade mãe, o teu Pão-de-Ló não é “inqueijado”), mas aquela leveza amarelinha era divina. Com uma bela fatia de queijo por cima.
Quando eu era muito pequena, tive que ser operada várias vezes a uma perna. Não interessa o que é que eu tive, mas sim que fiquei boa. E interessa aqui saber que a minha avó tinha as arrecadas (brincos trabalhados) de ouro mais bonitas que eu alguma vez vi. Pelo menos é a memória que tenho delas. A memória da minha avó linda Ermelinda com elas penduradas nas orelhas. E a memória é feita por nós. E interessa também que a minha avó era devota da Nossa Senhora de Fátima. E ainda interessa saber que ela prometeu, se eu ficasse a caminhar normalmente, que oferecia as lindas arrecadas em Fátima.
Lembro-me vagamente desse dia. De irmos a Fátima deixar os brincos da avó Ermelinda. Eu ia toda contente. Era um grande acontecimento. Ela devia ir triste. Não me lembro. Mas de certeza que, não sendo a família abastada, não lhe deviam ter vindo parar às orelhas sem sacrifício.
E lá as deixou. Não me lembro dos detalhes do dia.
Não sei se foi por isso ou se foi pelo excelente médico que me operou, o Dr. Lino Ferreira que também já morreu, mas caminho, danço, corro, pulo, trepo às árvores, faço yoga... como qualquer outra pessoa. E isso é um milagre de qualquer maneira.
Amanhã é 13 de Maio. O Papa está em Portugal. A Cova da Iría vai estar apinhada de gente. Há uma pessoa especial que vai estar lá e me prometeu que vai rezar pela avó Ermelinda. E ela vai saber, onde quer que esteja, que lhe estou agradecida.
Ah, agora uma palavrinha só para ti avó: lembraste de me dizeres para não adormecer no comboio sem agarrar bem a mala para não me roubarem? Faço sempre isso. Penso sempre em ti.
Obrigada, Ermelinda Linda Linda.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Letter to Clara

Estava aqui a pensar que deve fazer por esta altura 15 anos que nos tornámos amigas AMIGAS.
Estava aqui a pensar nas direcções boas que tomei na vida. Repetir as cadeiras do 1º ano da faculdade pode não ter sido uma boa direcção económica para os meus pais, mas foi uma das direcções mais certeiras que eu segui.
Conheci-te a ti, ao Marcos, melhor o Jorge e a Renata, ao Fundão, ao Alverca, ao Hugo...quem mais? A Sandrinha.
Cabe aqui esclarecer que foste definitivamente tu quem melhor me soube entender, aturar e ajudar. Todos os outros estão no coração, mas, a TI, tenho que salientar em letras gordas.
Podia aqui relatar linhas, parágrafos e romances de momentos que vivi contigo, mas, em primeiro lugar há coisas que não se contam a ninguém e em segundo, não haveria blog que chegásse.
Dantes estavas sempre aqui perto e era sempre fácil ir a correr ter contigo, dar-te e receber um abraço reconfortante e falar, rir, chorar...gargalhar, sei lá. Era fácil. Agora que e vida nos distanciou geograficamente (quem diría que quem ia embora eras tu?) sinto-te sempre, mas faz uma falta tremenda a presença. Vê lá, como é que é possível tu ainda não teres visto o meu móvel novo da sala? Ou as calças "bué loucas" que eu comprei a semana passada?
Mas há sentimentos que a distãncia não esmorece. E resolvi escolher o dia de hoje para o nosso aniversário.
Só para dizer que gosto muito de ti, que tenho orgulho em ti, que adoro ser tua comadre, que adoro o teu filho e que és uma das minhas melhores certezas.
Ando lamechas? Ando, ando. Mas nada disto é exagerado.

domingo, 9 de maio de 2010